Uma breve introdução a psicose
A palavra psicose surge a partir de um médico psiquiatra na primeira metade do séc XIX, demonstrando a ascensão do saber médico sobre o que antes chamava-se loucura para a sociedade ocidental. A loucura sempre foi vista como algo que estava “fora da sociedade”, ou seja a partir disso a criação marcante da psicose surge, por definição, o que marca a psicose é a “quebra da realidade”, viver fora da realidade, esta foracluído.
A partir desse termo (psicose) já pode-se notar as criações nosológicas do que antes chamava-se loucura. A psicose é a base dos diversos transtornos psiquiátricos relacionados a perda da realidade, seja por atribuições alucinatórias dos mais diversos tipos, ou incapacidade lógica de construção de um discurso corrente, é importante ressaltar que a medicina ao tomar de conta da loucura e dos psicóticos, via-se em meio a um problema téorico-técnico de leitura sobre a psicose, devido a entrada do fator sociedade como ponto de peso classificatório.
Para diagnosticar e estudar a psicose o discurso medico da época sem muita destreza e ferramentas para isso, abandonando então sua raiz epistemológica mecanicista, em que a doença nada mais é que uma disfunção fisico-fisiológica da matéria, para tornar-se dinamista, atribuindo aos seus estudos uma compreensão social da enfermidade, ou seja, a doença é vista como algo complexo que transita entre os meios internos e externos da matéria.
Temos aqui então uma dualidade epistemológica de interpretação sobre o que é e deixa de ser psicose, devido a esta transição que não foi muito bem estabelecida ou estudada, além das mudanças que o discurso médico sofre, deixando de ter apenas sua característica curativa de “retirada” da doença, para criar políticas de prevenção e estudar hábitos de higienização social, mantendo a ordem e a saúde da população.
Em meio a essa confusão teórica, o saber psiquiátrico avança dando espaço e criando na sociedade formas de estudo sobre a psicose a antiga loucura.
A psicose é a base dos transtornos modernos que são caracterizados pela “quebra da realidade” e parece ter suas diferenças em relação as outras enfermidades que foram “descobertas” da loucura entre os séculos XVII e XVIII, como afirma Foucault em seu livro história da loucura.
A psicose parece ter uma forma única de funcionamento, já que o problema é sempre atribuído a essa quebra com a realidade não possuindo relação com uma insuficiência cognitiva ou lesões cerebrais, ou seja, o problema da psicose não esta voltado a um fator único, mas sim a uma rede complexa de fenômenos ou fenômeno que caracteriza essa “perda da realidade”.
Fica aqui o ponto chave da psicose que parece ter nisso a sua força de diálogo, quando a essência da psicose fica atribuída a essa quebra de realidade, mostra que a realidade é múltipla e dependendo da lente que se enxerga o que é real ou não, seja por diferentes abordagens psicológicas ou matrizes epistemológicas dinâmicas ou mecanicistas, a psicose continua a existir e a desdobrar-se socialmente não como uma instância fechada de mal funcionamento do ser, mas como abertura dialógica das possibilidades e limites da sociedade em sua produção de conhecimento.
A loucura colocou em cheque as formas de saber e conhecer da sociedade, foi vítima e é vítima dos limites do conhecimento, não sendo possível de fato uma prevenção, afinal no mundo ocidental a loucura continua a nascer da produção social, e a produção social não é uma matéria são várias matérias, cabe aos saberes respeito, convívio e compreensão do que é ser ou não ser psicótico.
Cleverton Bastos Santos.